Já não é novidade para ninguém, mas vamos lá: 2020 tem sido um ano desafiador. 

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Estamos todos passando por limitações e perdas, alguns mais do que outros. Talvez você esteja lidando com cortes de salário, desemprego, saúde física e mental abatida, ou até uma saudade incurável de alguém que você ama.

Bom… você está aprendendo a viver com ausências. É, eu também.

Sabe, filmes realmente me ajudam em momentos assim. É uma forma quase metafísica de entender e processar o que vivo, e sei que isso não acontece só comigo (essa é a beleza da arte!).

Quer um exemplo? Há uns dias eu vi a animação “Onward”, chamada também de “Dois irmãos: uma Jornada Fantástica”. O filme fala exatamente sobre esse tema de ausência e é bem típico da Pixar: mágico, faz chorar, e a qualidade estética é chocante.

Quero comentar aqui sobre 3 cenas incríveis dessa produção, das quais a gente pode tirar aprendizados interessantes para se desenvolver como profissional e como pessoa, mesmo em momentos difíceis como este.

Vou dar muitos spoilers, então cuidado! Se preferir, vai lá ver “Onward” e volta depois (tá disponível na Amazon Prime Video).

Antes, deixa eu contar um pouco sobre o filme.

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Vou adiantar a coisa e colocar aqui a sinopse da Wikipédia:

“Em um mundo transformado, no qual as criaturas não dependiam mais da magia para viver, dois irmãos elfos recebem um cajado de bruxo de seu falecido pai, capaz de trazê-lo de volta à vida. 

Inexperientes com qualquer tipo de magia, Ian e Barley não conseguem executar o feitiço e acabam gerando uma criatura sem cabeça. 

Para passar mais um dia com seu pai, eles embarcam em uma jornada fantástica. Ao perceber a ausência dos filhos, sua mãe se une a uma lendária manticora para encontrá-los.”

Aqui no artigo vou falar principalmente sobre a relação de Ian, o irmão mais novo, com Barley, o irmão mais velho. É para facilitar a conversa, tá?

Bom, vamos para a primeira cena.

“Numa aventura, a gente precisa usar o que tem.”

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Barley tem várias pérolas no filme (sim, é o meu favorito de Onward). Na primeira vez que ele usa essa frase, os irmãos estavam atrás de um mapa superespecial para poder ressuscitar o pai. Mas, por causa de uma confusão… o mapa se queimou todinho. 

O que o mais velho fez? Usou uma versão infantil do mapa, feito para colorir com giz.

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A gente tem mania de ficar preso no que perdemos ou não conseguimos ter. Ficamos imaginando como as coisas eram antes ou como poderiam ter sido. Inclusive, vamos à caça dos culpados e, se não encontramos ninguém, abraçamos sozinhos a culpa.

Mas, olha, independentemente se você está passando dificuldade por algo que você teve controle ou não, foque naquilo que você pode fazer. Uma coisa 2020 mostrou: ninguém realmente sabe do futuro. 

Talvez você precisou se virar para pagar as contas, encontrar outras formas de ser produtivo ou conciliar mil coisas diferentes para conseguir trabalhar. E a solução está realmente nessas coisas! Seja reinventando sua função, mudando de cargo, fazendo aquele curso que sempre te interessou, seja até buscando uma atividade temporária. 

Desapegue das coisas que estão além de sua capacidade e siga com aquilo que tem hoje. 

Em “Onward”, no final das contas, o mapa infantil quebrou o galho.

As coisas vão se ajeitando aos poucos, mesmo que de um jeito que você não esperava.

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A grande dor do Ian é que ele mal tinha conhecido o pai, porque ainda era um bebê quando o perdeu. Quando o feitiço da ressurreição quase deu certo, Ian ficou empolgadíssimo e criou uma lista de coisas que gostaria de fazer com o pai: andar de bicicleta, jogar bola, compartilhar a vida…

Quem nunca fez uma listinha dessas, né? Tipo do que fazer com o primeiro salário, um roteiro de viagem dos sonhos, ou talvez de um novo cargo que você esperava conseguir.

Mas, então, Ian entendeu que essa era uma dor do Barley também, que igualmente perdeu um pai quando era bem novinho. E mais do que isso, o irmão mais velho fez de tudo para que o mais novo fosse feliz: jogou bola, o ensinou a andar de bicicleta, compartilhou a vida com ele…

Então, Ian percebeu que o que ele buscava no pai ele encontrava no Barley.

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Eu entendo que, dependendo do que for, vai fazer falta mesmo e não dá para substituir. Mas essa cena mostra que não devemos idealizar demais as coisas ou ficar obcecados com o que não podemos ter. 

Isso vale para aquela vaga que você tanto queria, mas que não conseguiu desta vez; para aquela empresa que nem te deu retorno ou mesmo a carreira que nunca decolou. Pode ser até em coisas mais sutis, tipo uma especialização que decepcionou, um ambiente de trabalho que aos poucos foi roubando sua energia…

Ao final, Ian realmente não teve o que ele queria. Ele não conheceu o pai pessoalmente, nem teve um momentinho com ele. Ainda assim, a jornada com seu irmão o fez enxergar a magia e a beleza que o cercavam esse tempo todo. Inclusive, ele se tornou mais corajoso, empático e até descobriu que tinha poderes mágicos.

Ian passou a valorizar o que estava bem à sua frente, cresceu como pessoa e aproveitou as pequenas coisas maravilhosas da vida. Seja como Ian.

“Em certos momentos, precisamos dar um passo sobre o abismo.”

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Essa cena é sensacional e dá para filosofar dias sobre ela.

Para atravessar um abismo, Ian precisava lançar um feitiço que criava uma ponte invisível. Invisível mesmo. E não bastava ele só falar as palavras: ele tinha que confiar, a cada passo em cima do abismo, que o feitiço estava funcionando.

Com medo de fazer isso, ele pede para Barley amarrar uma corda ao redor de sua cintura. Se ele caísse, a corda o seguraria. 

Foi isso mesmo que aconteceu: ele teve medo logo no começo do caminho e despencou. Mas tudo bem. O mais velho puxou o mais novo de volta, tirou a poeira da roupa e disse para Ian tentar mais uma vez.

Ainda aterrorizado, lá foi o Ian repetir o feitiço. Dessa vez, ele foi decidido: fixou os olhos no outro lado e, sem olhar para baixo e para trás, foi atravessar o abismo. E deu certo!

Mas… no meio do caminho, a corda amarrada na cintura do irmão mais novo se soltou. Como Ian não tinha percebido e ainda estava confiando no feitiço, Barley fingiu de bobo e continuou encorajando-o. Foi só no finalzinho que Ian notou que estava sem a corda, mas mesmo assim conseguiu atravessar. Ufa!

Ian já saiu brigando com seu irmão, dizendo: “Eu precisava daquela corda!”.

E Barley respondeu, cheio de deboche: “Ah, será que precisava mesmo?”.

É. Acho que nem vou tentar explicar o significado dessa cena para não estragar. Mas vou fazer uma provocação: qual é o passo sobre o abismo que você precisa dar?

Será que é tentar outra carreira? Montar o seu próprio negócio? Mudar alguns hábitos? Ir atrás de algo ou alguém? Bom, no seu coração e na sua mente, você sabe o que é.

A verdade é que você não vai ter todas as respostas sempre. Algumas atitudes suas serão atos de fé, de coragem, de ousadia. Você realmente precisa da corda ou de confiar a cada passo?

Eu sou o Ian? O Barley? Nem sei, mas quero ser parecida com os dois.

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Imagino que não esteja nada fácil para ninguém. Aprender a lidar com ausências, inclusive na área profissional, foi o meu maior aprendizado deste ano.

Escolhi falar sobre esse tema na esperança de ajudar você e outras pessoas aqui da rede a perceberem isso também. Depois me conta se funcionou, ou me chama para filosofar sobre a vida!

Ah, uma última coisa: se quiser ver o filme, repare também nos detalhes da animação. Sério, como conseguem fazer algo tão perfeito?!