Ansiedade, insegurança e dúvidas quanto à própria capacidade são sentimentos comuns na jornada acadêmica e profissional. Mas, quando são frequentes demais, podem se tratar de um fenômeno psíquico chamado “síndrome do impostor”. O problema leva esse nome porque quem está vivenciando a situação sente-se uma fraude, independentemente do quanto tenha trabalhado para chegar onde está hoje. A condição não é considerada um transtorno psicológico pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ganha cada vez mais espaço nos estudos de saúde mental. 

O termo foi usado pela primeira vez em 1978 pelas psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes. Elas fizeram uma pesquisa com 150 mulheres em posição de destaque profissional durante cinco anos. Os resultados mostraram que quanto mais respeitadas e bem-sucedidas elas eram, mais sentiam-se inseguras.¹ O estudo foi realizado somente com mulheres, mas o problema pode atingir qualquer pessoa e é ainda mais comum em quem têm profissões competitivas (como atletas, artistas e empresários) ou em quem pode ser julgado pelo seu desempenho (como ao receber uma promoção no trabalho).

Personalidades de sucesso, como Michelle Obama, Neil Armstrong, Maya Angelou e Tom Hanks, são algumas das pessoas públicas que já falaram sobre suas experiências relacionadas à síndrome do impostor. Apesar de terem carreiras de muito sucesso, isso acontece porque a condição não é baseada na realidade, e sim na percepção da realidade que cada pessoa tem. É um quadro muito mais comum do que parece. Estima-se que 70% das pessoas experimentam esses sentimentos pelo menos uma vez ao longo da carreira.²

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Insegurança com o novo ou síndrome do impostor?

É importante ressaltar que a síndrome do impostor é diferente da insegurança que sentimos ao executar uma tarefa que nunca fizemos antes ou com a qual não temos experiência. É normal sentir isso quando temos um novo desafio, e não há nada de errado. Identificar essa diferença ajuda a compreender o que estamos passando e nos superarmos.

A pessoa que está passando pela crise geralmente justifica suas realizações falando que “foi sorte” e não considera uma vitória pessoal. São muito comuns sentimentos como insegurança, baixa autoestima, complexo de inferioridade, perfeccionismo, apreensão e, principalmente, medo de ser exposta, por acreditar que sua incompetência será descoberta a qualquer momento. Essa síndrome acarreta um sentimento constante de inadequação, mesmo diante de elogios e reconhecimento externo, e pode evoluir para outros transtornos, como ansiedade e depressão.

Cuidem dos seus criativos!

Como já contei, a síndrome do impostor ataca qualquer tipo de profissional, mas, no mercado publicitário ela é ainda mais comum entre os criativos, e é aqui onde eu me encaixo. Como designer, sei que nosso trabalho é muito suscetível a julgamentos (de cunho pessoal ou técnico) tanto de colegas, quanto de clientes. 

Além de produzir um trabalho que, constantemente, é alvo de críticas, nós vivemos em uma época pautada pelas redes sociais, e isso significa julgamento em dobro, já que é muito comum publicarmos nossos trabalhos no Instagram, LinkedIn, Behance ou em alguma outra rede. E aqui é comum que a gente acabe se comparando a outros profissionais e trabalhos e, às vezes, até deixamos de divulgar os nossos projetos por insegurança. 

Eu sou formada em Publicidade. Dentro do curso, me descobri no Design Gráfico e sempre trabalhei na área. Mas dentro de mim sempre tinha uma vozinha dizendo que eu não entendia tão bem a técnica quanto quem tinha se formado como designer, ou que eu era uma farsa porque nunca fui boa em ilustrar nada à mão e só sabia montar composições no computador.

Mesmo com essas questões afloradas, criei um portfólio com alguns trabalhos da faculdade e consegui estágios e, depois, meu primeiro emprego na área. Se você tem essas inseguranças que eu tinha, vale dizer que hoje eu sei que, pra entender melhor as técnicas, dá pra fazer muitos cursos complementares e que ilustrar à mão não é um talento de todo designer gráfico, muito pelo contrário!

Como lidar com a autossabotagem

No meu primeiro trabalho, onde eu fiquei por 5 anos, eu nunca atualizei o meu portfólio nem publiquei nada nas redes. Eu me enganava com desculpas como “nunca tenho tempo” ou “estou com muito trabalho” e, com isso, ia ficando completamente estagnada e também invisível. E, por alguma pegadinha do destino, eu saí desse trabalho justamente para me tornar freelancer, e o que eu mais precisava era de um portfólio bem completo e bonito. Resolvi publicar tudo no Behance e fiz um Instagram profissional, com o qual acabei conseguindo bons trabalhos. Tinha amigos que nem sabiam o que eu fazia até eu criar esse conteúdo, amigos que se tornaram clientes e indicaram meu trabalho para outras pessoas.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Muitas vezes, o gatilho da síndrome de impostor se dá quando a gente cria uma visão distorcida de nós mesmos e começamos a nos comparar com outros profissionais que achamos muito bons. Mas saiba que sempre vai ter alguém melhor e mais avançado do que você e alguém que sabe menos, por estar começando, e está tudo bem! Eu não sei onde você está agora, mas não se compare com quem está em outro processo da jornada. Confie no seu trabalho! Se tiver medo, vai com medo mesmo e usa esse sentimento pra aprender e se tornar um profissional ainda melhor!

Como identificar a síndrome?

Confira alguns comportamentos comuns de quem tem a síndrome do impostor:

  1. Necessidade de se esforçar demais: a pessoa acredita que precisa se esforçar muito mais que os outros para justificar suas conquistas e por achar que sabe menos, ficando ansiosa e esgotada.
  2. Autossabotagem: diante de uma guinada na carreira – como uma promoção – surgem sentimentos que levam a pessoa a pensar que foi escolhida por falta de candidatos, ou até mesmo que não merece essa conquista. Assim, mesmo sem notar, pode se esforçar menos, evitando gastar energia para algo que acredita que não dará certo e diminuindo as chances de crescer.
  3. Procrastinação: essas pessoas podem adiar tarefas, deixar compromissos importantes para o último momento ou levar o máximo de tempo para cumprir suas obrigações, tudo com o objetivo de evitar o momento de avaliações e críticas.
  4. Comparação com os outros: outra característica da síndrome é ser perfeccionista, muito exigente consigo mesmo e achar que você nunca é bom o suficiente em relação aos outros, o que gera angústia e insatisfação.

Mas não se preocupe, tem como tratar!

Ao identificar características da síndrome do impostor, é essencial que a pessoa procure ajuda profissional e faça terapia para ajudar a internalizar suas capacidades e competências, diminuindo a sensação de ser uma fraude. Além disso, algumas atitudes podem ajudar a controlar os sintomas. Confira algumas dicas!

  1. Tenha um mentor para te dar feedbacks reais: se você se sente inseguro em relação a temas que ainda não domina completamente, tenha ao menos um mentor com quem possa se aconselhar. Aqui na Sophí, nós fazemos questão de dar feedbacks tanto no dia a dia, mostrando os comentários dos clientes e resultados dos nossos projetos, como em reuniões que acontecem periodicamente. Uma maneira de deixar as nossas SophíGirls bem à vontade com o próprio trabalho!
  2. Faça uma lista de suas realizações e atualize-se: independentemente de quão grande ou pequeno sejam, liste suas realizações. Isso ajudará você a perceber o seu valor. Descubra seus pontos fortes e complemente-os adquirindo mais conhecimento e habilidades. Mantenha-se sempre atualizado para acompanhar o desenvolvimento e as tendências do mercado. 
  3. Comemore suas realizações: você não conseguiu nada por “sorte” ou “ajuda de outras pessoas”. Assuma o papel que desempenhou no seu sucesso.
  4. Mantenha um registro das coisas positivas que dizem sobre seu trabalho: registrar as coisas positivas é uma maneira tangível de reforçar que o seu trabalho está sendo respeitado e apreciado.
  5. Abrace o fracasso para atingir o sucesso: falhar, perder e estar errado fazem parte do trabalho. Não deixe isso definir você. Aprenda com seus erros e siga em frente.
  6. Não estabeleça metas inalcançáveis: respeite suas próprias limitações para conseguir cumprir com tudo aquilo que você se propuser a fazer. Essa é uma maneira de não se frustrar por não cumprir um compromisso que você assumiu sabendo que era algo impossível.
  7. Observe e reformule seus pensamentos: o nosso cérebro também se vicia em pensamentos da mesma forma como nosso corpo se vicia em hábitos. Portanto, não deixe espaço mental para que os sentimentos negativos cresçam. Combata cada um deles com um novo que seja encorajador e validador. 
  8. Pare de se comparar: toda vez que você se comparar com os outros, encontrará uma falha em si mesmo que alimenta a sensação de não ser bom o suficiente ou não pertencer. Aceite que existem coisas que você não sabe, coisas que você nunca vai saber e coisas que você vai decidir aprender. Seja gentil com você mesmo!

Espero que essas dicas ajudem você a identificar quando suas questões internas começarem a minar sua confiança, trazendo a síndrome do impostor à tona. Lembre-se de que você é bom e que você é o suficiente. Ah, e na próxima vez em que alguém elogiar o seu trabalho, só agradeça!

Referências:

¹ Síndrome do Impostor | Psicólogo em São Paulo

² Impostor sundrome: 70% of people say they feel like a fraud in the…

Síndrome do impostor: o que é e como pode atrapalhar profissionais a se desenvolverem na carreira

O que é e como superar a síndrome do impostor

4 verdades que você precisa saber para evitar a síndrome do impostor

Síndrome do Impostor: Como Superar? – Cristiane Thiel

A síndrome de impostor no design, o “outro” inatingível e ambientes tóxicos