Não é novidade que a galera do #marketing e da #publicidade adora termos em inglês. Quem conhece as pegadas das agências de marketing e comunicação provavelmente já ouviu muito as palavras brainstorm, briefing, landing page, entre outras que podem soar grego aos ouvidos de quem não está familiarizado com a língua inglesa.
Olha só, de acordo com a pesquisa pelo Instituto de Pesquisa Data Popular em 2013, aqui no Brasil, só 5,1% da população de 16 anos ou mais tem algum conhecimento do idioma inglês. Existem, porém, diferenças entre as gerações. Entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, o percentual dos que falam inglês dobra, chegando a 10,3% das pessoas nessa faixa etária.
Já pararam pra pensar que essa lógica pode prejudicar, mesmo que de forma involuntária, o trabalho de profissionais de Marketing e Comunicação na hora de trabalhar? Vamos considerar uma pessoa que acabou de sair de uma universidade e ainda não conseguiu fazer um investimento em um curso de inglês, mas conseguiu uma oportunidade legal em uma agência cool. Chegando lá, ela recebe demandas de benchmarking, CRM, CRO, inbound… e outras palavras com as quais ela nunca teve contato anteriormente.
Será que essa pessoa vai se sentir confortável em trabalhar na área?
O que podemos trazer nessa reflexão é que inclusão é mais do que pensar em deficiências visíveis, é conseguir pensar e ter empatia com a trajetória de vida de cada profissional que recebemos nas empresas. Pessoas de baixa renda dificilmente vão conseguir salários melhores se não tiverem um bom nível de capacitação profissional, e isso só será possível quando as lideranças contribuírem e fizerem investimentos em seus empregados.
As empresas precisam colaborar para a evolução e o crescimento – pessoal e profissional – de cada funcionário, começando pela diminuição de exigências logo nos processos seletivos. Seria justo cobrar de um candidato habilidades em inglês quando ele não teve a oportunidade de aprender? Ainda mais em um país como o Brasil, onde os índices de desigualdade são alarmantes?
A conta não fecha
Entre 2014 e 2018, a renda dos 5% mais pobres no Brasil caiu 39%. Nesse mesmo período, o país registrou um aumento de 67% na população que vive em extrema pobreza, segundo o levantamento da Fundação Getúlio Vargas. Essa história faz do Brasil o sétimo país mais desigual do mundo, segundo o último relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), ficando atrás apenas de nações do continente africano, como África do Sul, Namíbia, Zâmbia, República Centro-Africana, Lesoto e Moçambique. O levantamento tem como base o coeficiente Gini, que mede desigualdade e distribuição de renda.
Existem pessoas muito capacitadas para trabalhar com marketing digital e que podem ser fundamentais para o crescimento geral da empresa. A questão é: como conseguir “puxar para cima” essas pessoas e criar um ambiente propício para o desenvolvimento de cada uma? As habilidades são tão importantes quanto a parte técnica. Uma profissional, por exemplo, com uma boa capacidade analítica pode ir muito longe e ser o perfil perfeito pra vaga mesmo que não tenha um conhecimento técnico muito profundo. O mesmo vale para aqueles que querem aprender e são muito dedicados.
Pra exemplificar, neste ano o Magazine Luiza abriu inscrições para seu programa de trainees de 2021 somente para candidatos negros. “O objetivo é trazer mais diversidade racial para os cargos de liderança da companhia, recrutando universitários e recém-formados de todo Brasil, no início da vida profissional”, disse a empresa em comunicado. Uma das maiores empresas do Brasil está reconhecendo que existe uma reparação histórica a ser paga; nesse caso, com pessoas pretas.
É pensar em inclusão de uma forma justa, que atenda a todos os grupos sociais dentro das organizações. Assim, fica mais fácil entender que lead é um um potencial consumidor, que ROI é o retorno do investimento e que stakeholders são pessoas interessadas em investir no seu negócio.
Se você quer uma pessoa 100% inteirada nos artigos usados diariamente no universo do marketing, simplifique a linguagem, invista em capacitação e ajude os colegas sempre que possível, tá bem? 🙂