Reflexão de uma jornalista que não é especialista em economia ou política, mas que é muito boa em esperançar.

Há tempos, a palavra “crise” entrou definitivamente para as nossas pautas diárias. Me parece difícil assistir a um noticiário sem que a dita-cuja apareça; para evidenciar um fiasco no crescimento da economia, um grupo de pessoas de meia idade ou uma pandemia causada pelo vírus que fez frear o nosso mundo moderno. 

É claro que, para cada tipo de crise, experimentamos níveis diferentes de caos, e não estou aqui para compará-los ou tentar minimizar os impactos de cada um. Mas já que lidamos, no decorrer da vida, com tantas instâncias de crises instaladas na sociedade, em nossa família e até mesmo em nossa personalidade, não deveríamos tentar extrair delas uma maneira de evoluir?

Como profissional da área de Comunicação, estou em contato com vários profissionais que atuam em pequenas, médias e grandes empresas e gostaria de alimentar uma corrente do bem em relação à situação que estamos vivendo, no mundo inteiro – resultado da pandemia de coronavírus (covid-19).

Essa é a parte da vida que chamo de “esperançar”. 

É olhar para a crise com os olhos muito abertos, a ponto de pensar no que podemos aprender e em que podemos ser melhores depois que ela passar.

Tenho lido notícias boas e ruins diariamente, e uma parte delas é sobre ações que algumas organizações estão colocando em prática para ajudar a população na crise – e que indiretamente também ajudam a saúde da empresa.

No caso das grandes empresas, vejo setores de Gestão de Crise muito bem aparelhados, desenvolvendo estratégias para apoiar os seus públicos-alvo e, ao mesmo tempo, continuar a dialogar com eles em tempos difíceis. 

É o exemplo da Ambev, que vai usar o álcool da fabricação de cerveja para produzir álcool em gel e doar a hospitais públicos. A princípio, não vejo como a empresa vai lucrar com essa ação – pelo contrário, ela vai investir. 

Mas você consegue imaginar qual será o retorno da marca em posicionamento, geração de valor e no encantamento dos novos consumidores – que prezam pelas experiências? Não sei fazer esse cálculo. Mas acredito que, quando essa crise passar (e se tem um aprendizado que levo pra vida: sim, ela vai passar), a Ambev pode estar um passo à frente da sua concorrência. 

Ainda no campo das grandes empresas, vejo exemplos de organizações que mudaram suas políticas não só para manter seus clientes neste momento delicado e para manter um mínimo de faturamento, mas também para cativá-los, mostrando que são parceiras “na riqueza ou na pobreza”. 

Posso citar a Localiza, empresa de aluguel de carros que suspendeu taxas, apertou os cintos e ajustou valores de aluguéis para atender pessoas que trabalham em serviços essenciais, como profissionais de saúde que não têm carro e que não gostariam de pegar transporte público neste período. 

Desgrudar os olhos dos impactos sofridos agora e olhar para o futuro, para a sustentabilidade de um negócio e quantas pessoas estão envolvidas nessa operação, é esperançar. 

Ah, mas tenho uma microempresa, sou um empreendedor lutando para se manter no mercado!

Compreendo e penso que se você olhar com carinho, pode achar uma oportunidade inexplorada para manter a saúde do seu pequeno negócio. Isso aconteceu em uma pequena fábrica de lingeries, que viu o seu faturamento cair com o isolamento social. O que estão fazendo com as matérias-primas? Costurando máscaras para atender à necessidade da população.

Outros casos que não posso deixar de citar: o petshop em que faço minhas compras mensalmente estendeu sua área de entrega para toda a BH. Basta fazer o pedido pelo WhatsApp para receber no conforto do meu lar. 

Um sacolão que fica na região em que moro também está recebendo pedidos pelo WhatsApp e entregando verduras, frutas e legumes frescos para os clientes de toda a BH. Na rede social do negócio, acompanho os prints dos clientes agradecidos – e as entregas começam a demorar um pouco mais porque os pedidos aumentaram demais.

Pego carona na última fala e tiro o chapéu para as marcas que estão investindo em conteúdo de qualidade para suas redes sociais no momento em que as pessoas estão mais conectadas do que nunca. 

Pode ser que o seu e-commerce seja uma loja virtual gigantesca com marketing places, um aplicativo cinco estrelas, uma lojinha no Instagram ou uma baita simpatia para atender todo mundo pelo WhatsApp, mas o consumo não parou – nem vai. Ele está migrando para o e-commerce, e isso não é de agora. 

Minha intenção não é dourar a pílula e minimizar as consequências que vamos enfrentar em breve, mas desafiar você a fazer esse exercício. 

Uma marca precisa ser sustentável mesmo depois da crise, e como você está trabalhando essa sustentabilidade no seu negócio? Olhando só para o hoje e pensando no que você está perdendo, ou enxergando em longo prazo tudo o que tem a ganhar?

Algumas fontes:

https://www.otempo.com.br/coronavirus/fabrica-de-lingerie-inova-e-passa-a-vender-mascara-fashion-em-contagem-1.2316584

https://www.mundodomarketing.com.br/ultimas-noticias/38582/coronavirus-altera-habitos-de-consumo-e-impacta-mercado.html

https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/saude-e-qualidade-de-vida/ambev-doa-alcool-gel-para-hospitais-publicos/

https://m.localizahertz.com/brasil/pt-br/covid19

https://exame.abril.com.br/marketing/outback-doa-ovos-de-pascoa-para-pequenos-mercados-e-profissionais-de-saude/

https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/saude-e-qualidade-de-vida/cimatec-monta-linha-de-envasamento-de-alcool-70-em-36-horas/