Este fenômeno conhecido como fake news parece algo estrondosamente novo. O que pouca gente sabe é que ele existe desde que as pessoas começaram a contar histórias. Porém, as notícias falsas tornaram-se um problema muito maior do que conseguimos lidar na era da internet, com as informações em tempo real e o “do it yourself” (faça você mesmo). 

Nos dias atuais, não é apenas a grande mídia que produz informação. Com a internet, você também se tornou um produtor de conteúdo. O que eu faço neste artigo, por exemplo, é produzir informação sem precisar de um aparato tecnológico avançado (como um estúdio ou uma redação) e um CNPJ de empresa jornalística.

Hoje, a sua tia-avó com Whatsapp e Facebook produz informações sobre ela mesma e divulga conteúdo que ela julga importante, de forma simples e rápida. A curiosidade, o espanto e o contato são cada vez mais rápidos e geram resultados muito mais estrondosos.

Em tempos de pandemia mundial, tornou-se ainda mais preocupante compartilhar “desinformações”. Utilizo essa palavra porque, muitas vezes, uma notícia considerada fake vem de uma notícia verdadeira, e aí se torna cada vez mais perigoso tentar negar a sua “veracidade”. 

Vou citar um exemplo recente para você entender o que estou querendo dizer. Semana passada (em pleno decreto de isolamento social), um vídeo do Drauzio Varella circulou. Nele, o médico dizia que estava tudo bem e que as pessoas poderiam andar normalmente pelas ruas. 

O problema todo é que esse vídeo não é falso. 

Ele realmente existe, só que foi gravado no início do ano, quando o covid-19 ainda não era uma ameaça para o Brasil. A principal intenção era acalmar a população brasileira, uma vez que ainda não tínhamos casos confirmados. 

Notícias assim são ainda mais complicadas de desmentir, uma vez que não é completamente falsa, mas sim tirada de contexto por alguém mal intencionado ou talvez por uma pessoa distraída que viu esse vídeo tarde demais e decidiu que era uma informação atual e quis compartilhar (muito mais difícil de acontecer).

Uma notícia e informação falsa (por completo) são aquelas criadas para gerar convulsão e pânico social em busca de audiência. Por exemplo, o caso da entrevista do grupo criminoso PCC ao Domingo Legal na cidade de São Paulo, em 2003. Um acontecimento verdadeiro pautando uma entrevista falsa com dois participantes da quadrilha. O caso foi parar na justiça e pegou muito mal para o apresentador.

Espalhar notícias erradas e falsas em tempos de crise mundial é extremamente perigoso. A receita de chá quente que cura coronavírus, óleo sagrado ou a cebola que absorve o corona mexem com a vida e a segurança das pessoas. 

Remédios antimalária estão em falta nas farmácias, assim como o álcool em gel, que é necessário para desinfetar as mãos de quem realmente precisa (como médicos, enfermeiros e profissionais que não pararam de trabalhar). É em momentos como este que o desespero sobe à cabeça, e até mesmo notícias verdadeiras são interpretadas de forma equivocada. 

Nesse cenário, você deve estar se perguntando: e agora? O que fazer? Até as notícias da TV estão sendo distorcidas. Não entre em pânico. Da mesma forma que essas pessoas têm mecanismos para produzir “desinformações”, hoje você tem na palma da mão ferramentas de verificação poderosas. Pensando nisso, selecionamos algumas dicas para que você não caia mais em fake news

1 – O GOOGLE PODE SER SEU MELHOR AMIGO 

Uma busca no Google com o título ou as palavras principais do texto (ou vídeo/áudio) pode ser a solução para descobrir se uma informação é falsa. Às vezes, a resposta que você está buscando já foi verificada por algum portal ou então, ao pesquisar, você não encontrará nenhuma referência de fonte oficial ou portais conhecidos.  

Outra coisa eficaz é a busca reversa de imagens no Google. Dessa forma, você descobre em quais sites ela foi usada e verifica se a informação que recebeu por WhatsApp realmente é verdadeira.

2 – CONSULTE SITES DE CHECAGEM DE NOTÍCIA 

Existem sites especializados em checagem de notícias. A Agência Lupa foi a primeira a realizar esse trabalho no Brasil e depois surgiram outras também importantes, como a Aos Fatos e o Fato ou Fake produzido pelo portal G1. 

Não é à toa que, instantes depois de uma notícia se espalhar, ela é declarada como confiável ou não. Os veículos de comunicação tradicionais têm uma forma de organização estruturada para avaliar notícias.Por isso, é muito importante se informar por meio deles. O portal G1, a Folha de São Paulo e portais internacionais que têm sede no Brasil, como BBC Brasil e EL País, são ótimas fontes de informação.

3 – NÃO GOSTA DA MÍDIA “TRADICIONAL”? NÃO TEM PROBLEMA.

Se você não gosta da mídia tradicional, existem outras formas seguras de adquirir informação. É possível se informar por portais que são livres ou de organizações não governamentais. A Agência Brasil, Jornal Nexo, Pública, entre outros, são exemplos de mídias alternativas. Desde que essas mídias tentem ao máximo alcançar a imparcialidade.

4 – DESCONFIE SEMPRE DAS MENSAGENS DE WHATSAPP

Existem alguns sinais que mostram que essas notícias podem ser falsas, como: 

  • Títulos muito surpreendentes;
  • Letras em caixa alta;
  • Frases como “isso a imprensa tradicional não mostra”;
  • Frases como “para o bem da sua família, espalhe essa informação para o maior número de pessoas que conseguir”.

Enfim, se tiver um lado político muito exacerbado e sensacionalista, desconfie. O equilíbrio é um pilar essencial para o jornalismo de qualidade. 

5 – VERIFIQUE SEMPRE A SUA FONTE 

O problema das fake news em momentos de crise é que elas se tornam questão de vida ou morte e também governamental. Uma boa verificação vem, principalmente, da origem da notícia: quem divulgou a informação? 

Foi a sua tia no Facebook? Se sim, pergunte a ela quem a enviou. Se ela responder que não sabe de onde, só que pedia para compartilhar, cheque.

Tem assinatura no texto? Esse nome é de uma pessoa confiável? Saber quem escreveu aquele texto ou de onde veio aquele vídeo ou imagem é essencial em qualquer etapa da verificação.

Além disso, é importante checar o domínio (nome do site) em que a sua notícia está inserida. É conhecido? Tem um nome muito esquisito? Muitas propagandas aparecem na tela? Pode ser sinal de falsificação. 

6 – ACESSE AS FONTES OFICIAIS

Os jornalistas profissionais têm acesso a uma agenda gigantesca com nomes, e-mails e telefones de pessoas importantes, fontes diretamente ligadas ao fato. Mas e você? Você também pode entrar em sites oficiais, principalmente órgãos governamentais. Eles são a melhor fonte neste momento de pandemia.

Tendo em vista as preocupações sobre a desinformação a respeito da doença, o Ministério da Saúde criou um site e um canal de atendimento pelo Whatsapp para desmentir notícias falsas sobre a covid-19. Você pode entrar em contato pelo número: (61) 99289-4640.

Por isso, lembre-se: cumprir com o isolamento, promover a higiene e combater as notícias falsas se tornaram atos de cidadania.