Quem não se lembra dos conselhos que Pedro Bial narrava em um dos primeiros virais da internet, no final de 2003? Na época, tínhamos tempo e paciência para vídeos longos ou PPTs com trilha sonora e GIFs animados. Esse vídeo, por exemplo, ganhou espaço na última edição do Fantástico daquele ano, entrou nas playlists das rádios do público jovem, encheu nossas caixas de e-mail no antigo Bol e (pasmem!) tinha mais de 7 minutos.

Preciso lembrar que o texto original é de Mary Schmich, escrito no final da década de 1990 nos EUA, inspirado após um simples passeio no Central Park, onde ela se perguntou se as pessoas usavam filtro solar naquele dia. Mas, enfim, mesmo que tivesse mais de mil anos, esse texto continuaria sendo muito atual, mas muito atual mesmo.

A verdade é que Mary não fala só sobre a importância de se proteger dos efeitos do sol, mas também compartilha conselhos valiosos em cada frase. Ela fala de família, de amigos, de velhice, de respeito. Ela fala de viver!

Hoje, tomei a liberdade de fazer uma interferência em um dos textos mais lidos e ouvidos dos últimos anos para dizer que, se eu pudesse incluir mais um conselho na lista de Mary, seria: recorra sempre – mesmo quando tudo parecer bem – a um acompanhamento psicológico.

Depois de descobrir e conhecer de perto as minhas fragilidades e minimizá-las (ou seria vigiá-las?), saber quais são as minhas forças e usá-las e, principalmente, ter equilíbrio emocional em meio ao caos corporativo (pessoal também), eu dei uma virada de chave na minha rotina.

Eu consegui enxergar melhor as injustiças do nosso mercado, perdi o medo e a preguiça de combatê-las sempre que estão ao meu alcance. Aprendi a dizer necessários e embasados “NÃOS” e vi o poder transformador disso. Descobri que as pessoas em um mesmo grupo são diferentes de mim e completamente diferentes umas das outras, têm experiências de vida diferentes, obstáculos diários diferentes e por isso querem algo diferente. Eu melhorei (e preciso melhorar ainda mais) minha comunicação no ambiente de trabalho. Vi que é possível aceitar as ideias do outro, sem deixar de discordar de tudo aquilo, de uma maneira leve. Entendi que não tem nenhum problema (na verdade, só tem solução) em admirar minhas evoluções nesse cenário todo. Sei que ainda tem muita coisa pra aprender pela frente. É um processo diário e eterno, eu diria.

Talvez eu tenha descoberto um dos meus principais papéis na função de líder e também no mundo. E isso, com certeza, passa pela terapia. Parece talvez filosófico demais, e seria pra mim, se eu ouvisse esse mesmo conselho de qualquer outra pessoa aos 18 anos de idade, no meu primeiro estágio.

Porém, hoje, depois de acompanhar casos de ansiedade, esgotamento mental, depressão, irritabilidade excessiva, improdutividade ao extremo ou uma simples dificuldade de se relacionar bem com o outro, entre vários colegas de profissão, eu queria aconselhar a Rhayda de 10 anos atrás: “Faça terapia antes que você sofra demais e desnecessariamente. Antes que perca noites de sono. Antes que os movimentos do seu rosto fiquem paralisados graças ao estresse do trabalho. Antes que sua memória (aos 20, uma elogiada memória) fique comprometida, Rhayda. Faça terapia antes de abrir o seu próprio negócio”.

Quantos profissionais você deixou de contratar por “perfil comportamental” que, na verdade, era um “descontrole emocional” nítido em vários momentos do processo seletivo? Ou quantos colegas brilhantes tecnicamente você já viu perdendo promoções por serem exageradamente inseguros e temperamentais? Gente, isso é sério e tem ficado cada vez mais comum. Eu te garanto que boa parte dos líderes de hoje, em qualquer pequeno negócio ou em grandes multinacionais, equilibram sua carga horária para se dedicarem à solução de problemas de origem emocional que não lhe competem. E como eles estão esgotados.

Tantas agências de comunicação e startups, por exemplo, antes vistas como um ambiente onde os gritos eram toleráveis (afinal, tinha pizza e cerveja depois do horário), e um ambiente tóxico era ok, se tornaram dispensáveis. Líderes geniais, porém difíceis de lidar (desculpe, Steve Jobs!) já não são tão aplaudidos como antes. A fusão de gestores impositivos e traumáticos com colaboradores emocionalmente abalados é explosiva. Ninguém suporta mais.

Quando Mary diz no texto “Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale”, eu tenho pra mim que ela descobriu isso na terapia ou pelo menos em um momento de reflexão das muitas experiências de uma vida, mas não foi em um simples passeio no Central Park. Foi em se autoexaminar.

Quando você dedica tempo a olhar para si e aprender algo com esse processo, tudo fica mais fácil. Talvez a terapia seja uma das chaves para você voar mais alto na carreira, largar aquilo que não faz sentido mais segurar ou simplesmente lidar melhor com as pessoas, as tarefas e os problemas a sua volta, sem sofrer tanto e sem afetar o outro. Meu conselho de hoje é: faça terapia e releia “O Filtro Solar”.